O último governo português, liderado pelo Primeiro-Ministro Luís Montenegro, tomou posse a 2 de abril de 2024. Este governo apresenta um plano chamado Construir Portugal, que inclui 30 medidas destinadas a reformular o sector da habitação no país para resolver uma das maiores deficiências de Portugal.
Esta estratégia entrou em vigor nos últimos dias e visa incentivar a oferta de habitação, com especial incidência nos jovens, para contrariar a inatividade do anterior governo português neste sector, segundo o atual Primeiro-Ministro. As trinta medidas da estratégia “Construir Portugal” dividem-se em seis áreas de ação, a saber
- Simplificação legislativa;
- Incentivar a oferta de habitação;
- Promoção da habitação social;
- Recupera a confiança no arrendamento;
- Promover a habitação para jovens;
- Garantir a acessibilidade da habitação.
Cada uma destas áreas representa um conjunto de desafios com que o país se deparou e para os quais se compromete a encontrar soluções eficazes. Vamos explicar-te, ponto por ponto, o que significam e como vão fazer parte da vida dos portugueses.
1. Simplificação legislativa:
- Agora, quando pedires um empréstimo à habitação, podes escolher uma seguradora diferente da preferida pelo teu banco. Esta medida visa promover uma melhor concorrência entre as companhias de seguros, beneficiando assim o mercado.
- A legislação destinada a racionalizar o sector imobiliário, conhecida como Simplex Urbanístico, implementada no início de 2024, foi agora revista, aprofundada e melhorada.
- Está em vias de ser aprovado um novo Código da Construção, que representa um esforço de colaboração entre várias entidades ligadas a este sector. No prazo de três anos, serão elaboradas novas diretrizes para regulamentar e modernizar as já existentes, incluindo algumas que remontam à década de 1960. Está também prevista a criação de uma plataforma digital que permitirá a realização de controlos automáticos e de fácil acesso para os profissionais desta área.
- Será implementada a metodologia Building Information Modeling (BIM). Esta metodologia, já amplamente utilizada em toda a Europa, envolve um software que funciona como uma base de dados com todos os detalhes pertinentes a um projeto de construção, criando também modelos 3D, informando sobre custos, resistência ou tipo de material necessário. Este método facilita ainda a comunicação entre os profissionais envolvidos no projeto e garante maior rapidez na construção e renovação de edifícios.
- A noção de custos controlados e de rendas acessíveis será aperfeiçoada para garantir que as despesas de habitação sejam verdadeiramente equitativas para os indivíduos em várias regiões e períodos de tempo. Esta medida contribuirá para criar um mercado imobiliário mais estável e duradouro.
- A Contribuição Extraordinária sobre o Alojamento Local (CEAL), que foi introduzida em outubro de 2023 pelo anterior governo, será revogada. As licenças de Alojamento Local deixarão de caducar e poderão ser transferidas entre proprietários. Os cálculos do coeficiente de obsolescência serão revistos, conferindo aos municípios maior poder de decisão.
- O Portal do Instituto da Habitação e Reabilitação Urbana (IHRU ) será criado para tornar mais transparente o acompanhamento das candidaturas.

Foto de Tom Rumble – Unsplash
2. Incentivar a oferta de habitação:
- O governo disponibilizará imóveis de propriedade pública para habitação com rendas acessíveis, sendo esta medida implementada através de parcerias público-privadas.
- Será criado um regime jurídico semi-automático, ou seja, uma lei que facilitará a utilização de imóveis públicos devolutos ou desabitados para projectos de habitação propostos e executados pelos municípios e, se necessário, em parceria com entidades privadas.
- Será alterada a legislação fundiária, permitindo que os terrenos rurais sejam utilizados para a construção de habitações sustentáveis com custos controlados, destinadas ao arrendamento a preços acessíveis ou ao alojamento de profissionais como professores, forças de segurança, trabalhadores agrícolas, trabalhadores industriais ou do sector do turismo.
- Será realizado um estudo para a criação de novos pólos urbanos com o objetivo de aliviar a pressão nas zonas urbanas. Estes novos pólos serão concebidos tendo em conta a sustentabilidade e deverão estar em harmonia com as infra-estruturas de transportes.
- Implementação de um sistema em que os projectos de habitação com custos controlados, rendas acessíveis ou alojamento temporário serão elegíveis para benefícios. Este sistema permitirá a construção adicional em áreas designadas, aumentando assim a densidade de construção.
- O governo concederá crédito para a construção de cooperativas através da atribuição de terrenos públicos.
- Criação de linhas de crédito para promover a construção para arrendamento.
- Redução do IVA para a taxa mínima de 6% nas obras de reabilitação ou de construção de habitações, com um limite deste benefício em função do preço.
- O acordo entre o governo e os agentes do sector da construção tem como objetivo aumentar a capacidade de construção através da implementação de processos industriais e do recrutamento de mais trabalhadores locais.

Foto de Lucho Renolfi – Unsplash
3. Promoção da habitação social:
- Serão disponibilizadas 25 000 casas do Plano de Recuperação e Resiliência (PRR), cabendo a responsabilidade total às autarquias locais.
- Será concedido um apoio financeiro suplementar a outros candidatos a alojamento elegíveis que não tenham recebido financiamento do PRR.
- Está previsto o reforço da capacidade de promoção do Instituto da Habitação e da Reabilitação Urbana (IHRU ) através da construção pública destinada ao programa Renda Acessível.
4. Restabelecer a confiança no arrendamento:
- O governo revogou o arrendamento forçado, que penalizava a propriedade privada.
- Revogação da medida Mais Habitação, garantindo e substituindo o Estado como inquilino.
- Será criado um contrato de investimento para o Built to Rent e o Available to Let.
- O governo pretende retificar as medidas tomadas nos últimos oito anos para restaurar a flexibilidade do mercado de arrendamento.

Foto de Lotus Design N Print – Unsplash
5. Promover a habitação para jovens:
- Os jovens terão a garantia do Estado para obter financiamento bancário para a compra da sua primeira casa.
- Os menores de 35 anos ficam isentos do pagamento de IMT (Imposto Municipal sobre Transmissões Onerosas de Imóveis) e do Imposto do Selo na primeira compra de um imóvel até ao 4.º escalão de IMT, ou seja, até 316 mil euros.
- Será criado um programa de emergência para o alojamento de estudantes.
- A implementação do Plano Nacional de Habitação 2025-26 proporcionará mais de 18 mil camas para estudantes.
- O programa de apoio ao arrendamento Porta 65 será revisto para melhor se adequar à realidade económica dos jovens. A exclusão relativa ao limite de renda será eliminada.

- O governo vai simplificar e racionalizar os programas de apoio ao arrendamento, eliminando a sua caducidade.
- Será estabelecido um conjunto de regras para a transição da renda apoiada para a renda acessível, garantindo a continuidade da assistência financeira.
O programa “Construir Portugal” tem como objetivo dar soluções imediatas e urgentes à crise habitacional vivida em Portugal nos últimos anos. O atual Primeiro-Ministro acredita que este será um compromisso de todos os membros do grupo parlamentar e, simultaneamente, de cada município.